F1: a história -sem fim- de Riccardo Paletti
O piloto italiano Riccardo Paletti nasceu em Milão, Itália, em 15 de junho de 1958. Era filho de Arietto Paletti, um próspero e milionário empresário do ramo imobiliário que, entre outras, era importador da marca Pioneer para a Itália. Aos 13 anos, Riccardo foi campeão de karatê na sua categoria, e também teve sucesso no esqui alpino, chegando à seleção juvenil italiana.
por Ricardo Caruso

Sua carreira na Fórmula 1 durou apenas oito etapas de muito sofrimento, e duas largadas. Ele faleceu há 43 anos, de maneira chocante, em 13 de junho de 1982. Começou a correr aos 19 anos, em 1978, na Super Fórmula Ford italiana, pilotando uma Osella, e já na estreia chegou a liderar a prova por 18 voltas. Após nove etapas, terminou o campeonato em terceiro, sem nenhuma vitória. No ano seguinte, em 1979, Paletti participou de uma temporada completa do campeonato de F3, mas suas melhores colocações foram dois quintos lugares.

Mais tarde, no mesmo ano, competiu em algumas corridas de Fórmula 2 pela primeira vez com a equipe Onyx, comandada por Mike Earle. Seu melhor resultado foi em Misano, onde terminou em oitavo. O dono da equipe nunca tinha ouvido falar em Riccardo Paletti, mas o italiano quieto e de óculos grosso trazia na bagagem o patrocínio da Pioneer, que foi o suficiente para garantir a vaga.
O começo na Fórmula 2 europeia não foi nada fácil. Paletti não falava bem inglês, e na equipe ninguém falava italiano. Mike Earle lembrou tempos depois que Riccardo rapidamente se familiarizou com o inglês, começando pelos palavrões. O carro era fraco, e depois de um campeonato difícil, participaram do GP de Monza de Fórmula 2, corrida de prestígio mas que não contava pontos para o campeonato. Foi aí que a carreira de Riccardo Paletti entrou no rumo certo: largou da segunda fila e terminou em terceiro lugar, observado por diversos chefes de equipe da F1.

Para 1981, Riccardo fechou outro contrato com Earle para correr a temporada inteira da F2 europeia. A equipe fez uma pré-temporada de muitos testes para dar mais experiência ao seu jovem piloto. A estratégia funcionou, e na abertura da temporada, em Silverstone — debaixo de muita chuva — Riccardo com seu March chegou em segundo lugar.

Na etapa seguinte, em Hockenheim, marcou a volta mais rápida e liderava quando teve de abandonar devido a uma pane elétrica. Na terceira etapa, em Thruxton, conseguiu o terceiro lugar. Naquela altura, com 10 pontos, era o vice-líder do campeonato. Mas como um passe de mágica, o bom desempenho e também a sorte do italiano sumiram, e ele só conseguiu somar mais um ponto no restante da temporada, terminando o campeonato de pilotos na 10ª posição. Não era extremamente rápido, mas era muito consistente, com bastante potencial a ser desenvolvido.

Sempre com a ajuda do patrocínio generoso da Pioneer, Paletti conseguiu uma vaga na Fórmula 1, na pequena e pouco competitiva equipe Osella, em 1982, mas o jovem italiano teve que enfrentar uma curva de aprendizado dura. A equipe preparou para ele e para Jean Pierre Jarier o FA1B, com motor Ford Cosworth.

Fazendo sua primeira tentativa durante o GP da África do Sul em janeiro de 1982, o companheiro de equipe Jean Pierre Jarier, muito experiente, conseguiu levar seu Osella para se classificar na última posição do grid, mas Paletti foi quase dois segundos mais lento, não conseguindo se classificar. Para a segunda etapa da temporada, no circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, palco do GP do Brasil, Paletti teve que se pré-qualificar na manhã de sexta-feira, mas o Osella perdeu uma roda e novamente ele não conseguiu entrar no grid.

A próxima etapa do campeonato foi o GP Oeste dos Estados Unidos, no circuito de rua de Long Beach. Jarier encontrou a configuração certa para o Osella e conseguiu colocar o carro entre os 10 primeiros na classificação. Paletti foi três segundos e meio mais lento e não conseguiu se classificar novamente.


Para o quarto GP da temporada, em Imola, em 25 de abril, em meio a uma guerra entre a FISA e a FOCA , apenas 14 carros leais à organização começaram a corrida. Paletti conseguiu superar o ATS de Eliseo Salazar e deveria começar do final do grid. No entanto, na tarde de domingo, o Osella de Paletti não conseguiu pegar para ir para a volta de aquecimento e, quando ele saiu dos boxes, os outros carros já estavam se alinhando para a largada. Como resultado, no momento em que cruzou a linha de largada, já estava 49 segundos atrás do último colocado. Ele não chegou perto do resto do grid e, após sete voltas, teve que abandonar devido a outra falha na suspensão.

Em Zolder, Paletti não conseguiu se pré-qualificar na sexta-feira, ficando cada vez mais decepcionado com o seu carro. O novo chassi, FA1C, que seria apresentado em Mônaco, prometia alguma coisa, mas Paletti sabia que a classificação para Mônaco era praticamente impossível, com seu carro lento e apenas 20 inscritos autorizados a largar nas ruas estreitas do principado. Havia apenas um novo chassi FA1C disponível, destinado a Jarier, e uma nova suspensão traseira foi adiada. Mais uma vez, Paletti não conseguiu se pré-qualificar.

Em seu sétimo GP, em Detroit, Paletti estava muito mais próximo do ritmo de Jarier e, embora a diferença ainda fosse de mais de um segundo, ele se classificou logo atrás de seu companheiro de equipe. No entanto, durante o warm up, Paletti perdeu uma roda logo no início. Os mecânicos tentaram consertar o carro a tempo para a corrida e, embora ainda houvesse a possibilidade de começar a corrida no carro reserva, essa opção também foi por água abaixo, depois que o extintor de incêndio de Jarier disparou acidentalmente e o francês pegou o carro reserva.

Isso significava que seria uma corrida contra o tempo para os mecânicos de Paletti ajustarem o carro, e eles ainda estavam trabalhando quando os demais carros foram para o grid. Mas assim que o trabalho foi concluído, com Paletti pronto para entrar no carro, veio a notícia de que Jarier havia batido no muro, danificado seu carro e estava voltando para os boxes. Então, o carro de Paletti foi para Jarier, que começou a corrida do box, deixando o italiano para trás como espectador mais uma vez.

Quando ele se classificou para o GP do Canadá, que aconteceu no domingo, 13 de junho de 1982, foi a primeira vez que Paletti participaria de uma prova completa (treino livre, treino classificatório e corrida). Parecia que os tempos de sofrimento total tinham acabado. Na largada, as luzes levaram um tempo incomumente longo para ficar verdes. Didier Pironi, que tinha a pole position, teve quebra da embreagem e sua Ferrari mal se moveu quando as luzes ficaram verdes, os outros carros desviaram pela pista, tentando escapar do carro parado de Pironi.

Infelizmente, Raul Boesel bateu na traseira esquerda da Ferrari, rodando com seu March para a trajetória de Eliseo Salazar e Jochen Mass. Salazar, Boesel e Mass sofreram pequenos impactos, mas quando parecia que todos haviam ultrapassado a Ferrari sem consequências graves, Paletti, que havia largado muitos metros atrás, bateu forte na traseira da Ferrari parada, a 180 km/h, catapultando-a para a trajetória de Geoff Lees. Vários outros carros se envolveram e abandonaram instantaneamente.


Mas Riccardo Paletti provavelmente nem viu a Ferrari parada. Talvez ele estivesse de olho no seu contagiros se aproximando de 10.500 rpm e se preparando para mudar da terceira para a quarta marcha. Lembre-se de que ele ainda era um novato e esta seria sua primeira largada em um GP. No entanto, ele nem saiu da sua trajetória.


O Osella atingiu a caixa de câmbio da Ferrari, e se deformou de tal maneira que o volante atingiu o peito de Paletti, causando ferimentos graves, e ele ficou inconsciente em seu carro, preso nos destroços. Didier Pironi e Sid Watkins, o médico-chefe da FIA, correram até ele em questão de segundos para ajudar.

Enquanto Watkins subia sobre os restos do Osella para atender o piloto, a gasolina que havia vazado do tanque de combustível rompido do carro — tanque este totalmente cheio — se inflamou, envolvendo o carro em fogo. O incêndio foi rapidamente extinto, mas Paletti já estava sem pulso.

Ainda no carro, o piloto foi entubado e recebeu várias injeções intravenosas para reativar seus batimentos cardíacos, sem sucesso. Finalmente retirado do Osella, a caminho do helicóptero, os médicos ainda tentavam reanimá-lo com massagem cardíaca. Ele foi levado às pressas para o hospital, onde sua morte foi constatada logo ao chegar. No entanto, o fato de ele não ter sofrido queimaduras apesar do fogo, foi uma prova da eficiência da equipe médica e dos equipamentos de proteção da Fórmula 1. Depois dele, a próxima morte de um piloto de Fórmula 1 foi em 1994, com Ayrton Senna.
Formula 2, 1981, nas três imagens abaixo:



Os socorristas levaram 25 minutos para retirá-lo com segurança de seu carro destruído, pois as faíscas causadas pelo equipamento de corte ameaçavam reacender a gasolina na pista. Ele foi levado de helicóptero médico para o Royal Victoria Hospital. Sua mãe estava assistindo das arquibancadas, e iriam viajar depois da corrida para Nova Iorque, para comemorar seu 24º aniversário. Paletti sofreu ruptura na aorta, bem como fraturas em ambas as pernas. Segundo o médico Jacques Bouchard, que o atendeu no hospital, as suas pupilas já estavam dilatadas, e o tempo prolongado de extração do carro não fez qualquer diferença nas suas hipóteses possíveis de sobrevivência.

Como já vimos, Riccardo Paletti faria 24 anos dois dias depois. Na noite do sábado, jantou com a mãe, Gianna, que havia chegado da Itália com Arietto para assistir a corrida e comemorar o aniversário do filho.

Anos depois, a mãe se lembraria para sempre das palavras do filho, na última noite em que estiveram juntos: “mãe, eu sei que você fica mais tranquila quando eu fico de fora da corrida, mas sei que você quer a minha felicidade”. A mãe respondeu: “filho, quero sua felicidade acima de tudo”.

Na tarde do domingo, antes da largada, Riccardo segurou e abraçou a mãe e olhou nos olhos dela. Gianna sentia que o filho tentava tranquilizá-la. A mãe estava, naturalmente, preocupada, mas sentia que o filho estava realizado, sorridente, feliz como talvez nunca antes. “Ciao, mamma”, foram as últimas palavras que o piloto disse à sua mãe.



Ele está sepultado no cemitério de Musocco, em Milão (abaixo).

Em homenagem ao jovem piloto italiano, o autódromo de Varano de’ Melegari (Parma), na Itália, foi batizado de Autódromo Riccardo Paletti. Há também um altar na Igreja de Santa Maria al Carrobiolo, em Monza, dedicado à sua memória, na Capela do Crucifixo e doada pela sua família (abaixo).

Tempos depois da tragédia, a família de Riccardo Paletti preparou um livro em sua homenagem. Nele, Arietto Paletti dedicou-lhe as seguintes palavras: “Sua mãe e eu sabíamos que o automobilismo era seu caminho na vida, e nós não podíamos impedi-lo de seguir este caminho. Adeus, Riccardo, nosso amado e lindo filho, ninguém vai se esquecer de você por tudo o que você batalhou”.
