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O dia em que assassinaram o presidente da Renault

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Georges Besse (1927-1986), engenheiro francês com carreira em diversas estatais daquele país, assumiu a presidência da Renault com um objetivo específico: recuperar a empresa estatal, que enfrentava grandes problemas financeiros. No início dos anos 1980, a Europa vivia tempos conturbados, marcados pela crescente contestação social e política. O assassinato do presidente do Egito, Anuar el Sadat (1981), o crescimento do Irã como potência regional e os conflitos com o Iraque criaram uma crise energética com graves reflexos na indústria automotiva.

da Redação

Besse assumiu a presidência da montadora estatal Renault em janeiro de 1985. Ele é lembrado por levar a empresa, que dava prejuízos, ao lucro apenas dois meses antes de ser assassinado. Também foi criticado porque seu plano para tornar a empresa -inchada como toda voa estatal- mais eficiente incluía o fechamento de fábricas e a demissão de 21.000 trabalhadores. Os sindicatos se opuseram às suas ações na França, bem como ao seu apoio aos investimentos da Renault nos Estados Unidos, com a American Motors (AMC), que também enfrentava dificuldades financeiras.

A Renault investiu recursos na AMC para o lançamento de novos veículos Jeep, a modernização dos motores AMC de 2,5 e 4,0 litros com injeção eletrônica, além da construção de uma nova fábrica em Ontário (Canada). Enquanto alguns executivos da Renault e líderes sindicais viam a AMC com preconceito, Besse defendia o futuro do mercado norte-americano justamente quando os veículos 4×4 da Jeep experimentavam aumento sem precedentes na demanda. Besse não apenas tornou a Renault lucrativa, como também colocou a AMC no caminho da lucratividade, com mercados e vendas em crescimento.

Ao mesmo tempo, a chegada das marcas japonesas à Europa alterou o status quo e obrigou os europeus a apostarem numa política de fusões e aquisições com o intuito de criar Grupos empresariais fortes, capazes de assegurar formas de crescimento mais sólidas.

Neste cenário, Georges Besse conseguiu recuperar financeiramente a Renault. Apostou em novos modelos como o Clio, em tecnologias diferentes como os motores turbo e procurou alianças com outros fabricantes, ao mesmo tempo que avançou para tentar conquistar um spaço no mercado americano. O seu trabalho foi interrompido em 17 de novembro de 1986, quando foi assassinado

Besse foi baleado em frente da sua casa, no bairro de Montparnasse, em Paris. Tinha apenas 58 anos. O crime foi testemunhado por uma de suas filhas, que observava a rua de uma janela do andar superior da casa enquanto esperava sua chegada em casa. Os assassinos de Besse se aproximaram assim que ele desceu do carro. Testemunhas disseram que ele foi baleado pelo menos seis vezes, na cabeça e no peito, morrendo quase imediatamente.

Três meses depois, panfletos da organização anarquista “Action Directe” foram distriuídos pela França. A organização reivindicou a autoria do assassinato, alegando que se tratava de uma retaliação às reformas implementadas por ele na Renault, que enfrentava dificuldades financeiras e exigiu a demissão de um grande número de funcionários. No entanto, os membros da Action Directe negaram qualquer responsabilidade durante o julgamento. Foi comentado ainda que o crime foi uma resposta às suas ligações com a venda de material nuclear francês ao Irã e ao Iraque, mas as razões reais nunca foram esclarecidas.

Duas mulheres, Nathalie Ménigon e Joëlle Aubron, foram acusadas de seu assassinato em março de 1987 e condenadas à prisão perpétua em 1989. Outros dois membros da Action Directe, Jean-Marc Rouillan e Georges Cipriani, foram condenados como cúmplices e também sentenciados à prisão perpétua.

Em sua homenagem, a fábrica da Renault em Douai, no norte da França, foi renomeada com seu nome. A unidade de enriquecimento de urânio por difusão gasosa “Georges Besse”, operada pela COGEMA (posteriormente AREVA), de 1979 a 2012 em Tricastin, foi depois substituída pela unidade de enriquecimento por centrífuga “Georges Besse II”. 


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