Tecnologia

Stellantis: novo quatro cilindros 2.0 tem 330 cv e muita tecnologia

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Enquanto o mundo do automóvel está entretido com debates sobre tempo de carregamento e autonomia, a Stellantis decidiu ir na contramão disso com um novo motor a gasolina. Trata-se do novo Hurricane 4 Turbo, que tem 2.0 litros, quatro cilindros, 330 cv de potência máxima e 45 mkgf de torque máximo, e a tecnologia aplicada é o que mais surpreende. Vai estrear no Jeep Grand Cherokee 2026 e promete ser um dos motores mais importantes do Grupo para os próximos anos. No Brasil o motor Hurricane é usado nos Jeep Compass e Commander Blackhawk e nas Ram Rampage, com a mesma cilindrada mas “apenas” 272 cv e 40,1 mkgf.

da Redação

motor Hurricane 4 Turbo

Este motor vem substituir o atual Hurricane (para carros de origem americana), também conhecido como GME (Gasoline Medium Engine) T4 que encontramos, por exemplo, nos Jeep e Ram nacionais, como já dissemos, e na Alfa Romeo Giulia e Stelvio, em versão batizada de Giorgio. A linha será unificada e usará o nome Hurricane 4 Turbo, o mesmo nome do seis cilindros em linha do Grupo.

O novo motor mantém o número de cilindros e cilindrada do antecessor, assim como o recurso da aplicação do turbo, e só. As semelhanças terminam aí, pois o novo projeto incorpora soluções avançadas pouco comuns em unidades de quatro cilindros de grande produção.

A mais importante é a tecnologia “Turbulent Jet Injection” (TJI), nascida nos carros de Fórmula 1. Cada cilindro tem uma pequena câmara pré-combustão com a sua própria vela de ignição, onde é injetada uma mistura altamente comprimida de ar/combustível.

A queima desta mistura é mais rápida e homogênea, melhorando o rendimento e a eficiência. Não é a primeira vez que ouvimos falar nesta tecnologia. É a mesma solução que a Maserati estreou no motor Nettuno, V6 biturbo que equipa o MCPura ou o GranTurismo.

Passamos assim a ter duas velas por cilindro e também dupla injeção de combustível: pode ser direta ou indireta, ou as duas em simultâneo. O gerenciamento eletrônico define em tempo real quando recorrer a cada uma das injeções, para otimizar potência ou eficiência.

 

Os argumentos tecnológicos do Hurricane 4 Turbo não ficam só nisso. Usa um turbocompressor de geometria variável, com controle elétrico das aletas, permitindo atingir até 2,4 bar de pressão, o que significa respostas rápidas a baixas rotações. De acordo com a Stellantis, 90% do torque máximo está disponível já a 2600 rpm.

Tanta tecnologia e um rendimento tão elevado (165 cv/l) num motor de grande produção, para ser estreado num SUV grandalhão e pesado como é o Grand Cherokee, traz dúvidas sobre a confiabilidade e durabilidade. A Stellantis garante ter feito a lição de casa. Comparado com o anterior GME T4, o bloco de alumínio do Hurricane 4 Turbo foi redesenhado, com paredes dos cilindros 24% mais espessas e revestidas com plasma (10 vezes mais resistente ao desgaste do que as tradicionais camisas de ferro) e apoio das bielas (moentes) no virabrequim de maiores dimensões.

O plasma aplicado em revestimento é uma tecnologia que utiliza o quarto estado da matéria, o plasma, para aplicar uma camada protetora em um material, melhorando sua resistência ao desgaste, corrosão e isolamento térmico. 

 

Os sistemas auxiliares também evoluíram nesse motor: bomba de óleo de deslocamento variável, bomba d’água elétrica e circuito de arrefecimento líquido/ar para o intercooler, tudo pensado para reduzir perdas mecânicas. O motor opera no ciclo Miller (que é mais eficiente) e consegue uma taxa de compressão de 12:1. É um valor elevado para um motor turbo e com estes valores altos de potência e torque (é de 11:1 no V6 da Maserati, por exemplo), o que dá mais um indicador da sua eficiência.

O ciclo Miller é o ciclo termodinâmico para motores de combustão interna que prioriza a eficiência energética, alcançada ao alterar o tempo de abertura das válvulas de admissão. A válvula de admissão permanece aberta por mais tempo durante a fase de compressão, permitindo que o pistão “comprima” menos a mistura ar/combustível. Isso reduz não só o trabalho de compressão, mas também a potência, um problema compensado pelo uso de um supercharger ou turbocompressor para forçar mais ar para dentro do cilindro, aumentando a potência quando necessário. 

Ashish Dubey, engenheiro-chefe do projeto, garantiu que o novo quatro cilindros foi “validado em centenas de milhares de quilômetros de teste”, afastando receios de fragilidade num motor com este nível de rendimento e sobre-alimentação.

Segundo a Stellantis, o novo Hurricane 4 Turbo consome 10% a menos combustível e oferece 20% a mais potência do que o anterior 2.0 turbo, apesar de oferecer mais 50 cv (em relação ao motor usado nos Alfa Romeo). A Maserati chegou a equipar o Ghibli com uma versão mild-hybrid 48 V desse motor, capaz de entregar os mesmos 330 cv, mas o arsenal tecnológico do novo motor está num patamar acima.

Slide que compara Hurricane 4 Turbo com Pentastar V6
Comparação com o V6 Pentastar (3,6 litros aspirado), usado por vários modelos norte-americanos da Stellantis.

Além disso, foi desenvolvido desde o início para aceitar configurações híbridas e híbridas plug-in, e por isso promete tornar-se uma peça-chave na transição energética da Stellantis, por mais paradoxal que possa ser, por meio da combustão…

O Jeep Grand Cherokee 2026 será o primeiro a recebê-lo, mas nos planos da Stellantis está previsto este motor chegar a muitos mais modelos. Primeiro os norte-americanos, onde deverá tomar, progressivamente, o lugar do Pentastar V6. Mas não nos surpreenderia que os sucessores dos Alfa Romeo Giulia e Stelvio — adiados para 2027 para integrarem motorizações térmicas —, estivessem entre os candidatos mais prováveis a recebê-lo. Há uma boa chance de serem ainda aplicados aqui.

Num mundo em que a história do automóvel se voltou para baterias, eletrificação e emissões zero, um motor 2.0 sofisticado, de 330 cv, soa quase como uma heresia e mostra que ainda há alguma vida para os motores de combustão.


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