IBAP Democrata: a história definitiva
O carro que (quase) reinventou a indústria brasileira.
Acompanhe com AUTO&TÉCNICA a saga de um ousado empresário brasileiro —polêmico na época, genial olhando hoje— e seu projeto de produzir, nos anos 1960, um carro totalmente nacional: o Democrata.
por Rubens Caruso Junior
Lembramos que é proibida a reprodução de texto e fotos contidas nessa matéria.

Em 1988 eu e o Ricardo Caruso fizemos uma visita autorizada aos quase escombros do que um dia foi a IBAP (Indústria Brasileira de Automóveis Presidente), 25 anos depois de criada, o que rendeu uma matéria memorável publicada no jornal “Diário do Grande ABC” e na saudosa revista “Oficina Mecânica” (ed. 24). As fotos preto e branco que ilustram essa matéria são daquele momento e pertencem ao acervo de A&T, a maioria inéditas.
Em 1996 resgatamos o assunto na AUTO&TÉCNICA impressa (ed. 16), outra pauta que marcou época, assinada pelo talentoso Rogério Ferraresi.
Retomamos agora o tema, que ainda causa acalorados debates.
Antes, uma inédita
Entrevista com Nelson Fernandes, fundador da IBAP
Uma conversa franca e aberta com o jovem empreendedor que, aos 36 anos, tem entre seus projetos já consolidados um clube recreativo e um hospital, construídos em São Paulo.
Nelson conta, com rara desenvoltura, um pouco da saga que se tornou a ideia de fabricar o primeiro carro totalmente nacional. Confira.

AUTO&TÉCNICA – Nelson, como nasceu a ideia de criar a Indústria Brasileira de Automóveis Presidente e o carro Democrata?
Nelson Fernandes – A ideia nasceu da convicção de que o Brasil tem capacidade técnica e humana para produzir um automóvel moderno, sem depender de cópias estrangeiras ou pagamento de royalties. O Democrata é a materialização desse sonho: um carro do povo, feito por uma empresa do povo, com tecnologia própria e espírito nacionalista. Queríamos provar que o brasileiro pode, sim, fabricar um automóvel competitivo e inovador.
A&T – Quais foram os principais obstáculos enfrentados na primeira etapa do projeto?
NF – A primeira etapa foi a mais difícil. Enfrentamos campanhas injustas, violentas e maldosas que tentaram desacreditar nossa iniciativa. Houve ataques à nossa integridade e à viabilidade do projeto. Mas respondemos com trabalho e resultados: o Democrata é um automóvel inteiramente nacional, fruto de muito esforço e superação. Cada quilômetro rodado nos testes foi uma resposta aos incrédulos.
A&T – O Democrata já pode ser considerado um carro brasileiro?
NF – Sim, com orgulho. Embora o projeto mecânico tenha sido desenvolvido na Itália, ele foi integralmente adquirido pela IBAP, o que nos garante total propriedade intelectual. Os primeiros conjuntos mecânicos foram fabricados lá por questões técnicas, mas o processo de nacionalização está em curso. Em breve, o Democrata será 100% brasileiro, sem qualquer vínculo com grupos estrangeiros.
A&T – Por que a escolha da fibra de vidro para a carroceria?
NF – A fibra de vidro oferece resistência superior ao aço, além de ser mais leve e econômica. Ela permite soluções técnicas inovadoras, como o acabamento das janelas em peça única de alumínio, que resolve problemas de vedação, encaixe e estética com menos peças e mão de obra. É uma escolha que alia segurança, conforto e racionalidade produtiva.
A&T – Como o senhor definiria o estilo e o conceito do Democrata?
NF – O Democrata é um sedã de duas portas, com linhas modernas e sóbrias, pensado para ser um carro familiar com toque esportivo. Sua traseira truncada melhora a aerodinâmica, e os detalhes como faróis retangulares, rodas de liga leve e acabamento interno em jacarandá da Bahia mostram nossa preocupação com estética e conforto. É um carro com “bossa”, como dizem.

A&T – O motor do Democrata é um dos destaques. O que o torna especial?
NF – É um V6 de 2.498 cm³, com bloco de alumínio e desenho “super-quadrado” (N. do E.: motor super-quadrado é aquele que tem o diâmetro dos pistões maior que seu curso, equilibrando potência e torque em médias rotações). Possui dois carburadores Solex C.40, os coletores de admissão possuem câmaras de pré-aquecimento da mistura e os de exaustão câmara de circulação de água, para arrefecimento. A distribuição é feita por dois comandos de válvulas, e a câmara de combustão está integrada ao topo dos pistões. Tudo isso garante potência de 120 cv a 4.500 rpm e excelente eficiência.
A&T – Como foram realizados os testes de desempenho do veículo?
NF – Rodamos mais de 120 mil quilômetros em testes exaustivos. O carro mostrou excelente torque, estabilidade em curvas, resistência à chuva e ventos laterais, e desempenho impressionante em subidas e retas. A suspensão respondeu bem, e os freios foram submetidos a condições extremas sem apresentar fading. O Democrata superou todas as expectativas.
A&T – Qual é a capacidade atual de produção da IBAP e quais são os planos futuros?
NF – Hoje, na fábrica-piloto, conseguimos produzir até cinco carros por dia. O plano é expandir para 30 veículos diários no segundo estágio e, finalmente, atingir 350 carros por dia com a conclusão do complexo industrial de 210 mil m². Cada etapa foi pensada com base na viabilidade técnica e na valorização do terreno.

A&T – Como funciona o modelo de sócio-proprietário da IBAP?
NF – É um modelo revolucionário. Os associados têm prioridade na compra do carro a preço de custo e participam diretamente do capital, da administração e dos lucros da empresa. Isso cria um vínculo entre operário, consumidor e empresa, reduz desperdícios e fortalece o espírito de cooperação. É uma verdadeira integração do povo ao processo produtivo.
A&T – Houve críticas à localização da fábrica. Como o senhor responde a isso?
NF – Escolhemos a área no km 32 da Via Anchieta por sua proximidade com o ABC paulista, acesso fácil, mão de obra especializada e infraestrutura disponível. Estudos técnicos mostraram que o terreno, apesar de acidentado, é adequado. A valorização imobiliária desde a compra em 1964 comprova que foi uma decisão acertada.
A&T – Quais foram os principais desafios burocráticos enfrentados pela IBAP?
NF – Obtivemos aprovações da Prefeitura de São Bernardo, Corpo de Bombeiros, Secretaria da Saúde e da Comissão de Controle de Poluição. Um dos maiores desafios foi garantir o tratamento adequado da água industrial, que será conduzida até o reservatório da Billings sem risco de poluição. Tudo foi feito com responsabilidade e planejamento.
A&T – Como o senhor enxerga o papel da IBAP na indústria nacional?
NF – A IBAP representa uma ruptura com o modelo tradicional. Somos uma empresa que aposta na produção nacional, na participação popular e na independência tecnológica. Nosso modelo desafia estruturas estabelecidas e mostra que é possível inovar com responsabilidade social e econômica.
A&T – O Democrata foi projetado com foco em segurança? Quais são os principais diferenciais?
NF – Além da carroceria reforçada, o carro possui painel estofado, estrutura interna pensada para resistir a capotagens e caixa de direção posicionada atrás do eixo dianteiro, evitando ferimentos em colisões frontais. São soluções alinhadas com as normas de segurança europeias e americanas.
A&T – O senhor acredita que o Democrata pode competir com os grandes fabricantes?
NF – Sem dúvida. O Democrata é moderno, confortável, seguro e acessível. Mas mais do que competir, ele representa uma nova forma de pensar a indústria automobilística: com foco no povo, na inovação e na independência. É um carro que nasce com alma brasileira.
A&T – Que mensagem o senhor gostaria de deixar aos associados e ao povo brasileiro?
NF – Agradeço profundamente pela confiança. O Democrata é só o começo. Com trabalho, união e fé no Brasil, vamos construir uma indústria forte, justa e verdadeiramente nacional. A caravana segue em frente, e o futuro já começou.
A entrevista acima é totalmente fictícia, todavia as “respostas” foram todas obtidas na revista “Notícias em Foco”, publicada pela Empreendimentos Nelson Fernandes em 1968, da qual AUTO&TÉCNICA possui um raro exemplar original, presenteada pelo próprio empresário. A imagem do “entrevistado” também é desse material, todavia foi colorida por meio de Inteligência Artificial.
Voltemos à realidade e à história.
IBAP Democrata: o carro que quase reinventou a indústria brasileira

Em meio à década de 1960, quando o Brasil ainda dava os primeiros passos na produção de automóveis com a Volkswagen, Ford, GM, Vemag, Romi e Willys, um projeto ousado surgiu com a promessa de revolucionar o setor: o IBAP Democrata. Idealizado por Nelson Fernandes, o carro nasceu como símbolo de independência industrial, inovação técnica e participação popular. Mas apesar do entusiasmo, o sonho terminou antes de se concretizar.
Fundada em 1963, a Indústria Brasileira de Automóveis Presidente (IBAP) tinha um objetivo claro: criar um automóvel moderno, acessível e 100% nacional. O Democrata seria o primeiro modelo, um sedã de duas portas com motor traseiro, carroceria de fibra de vidro e acabamento de luxo. O projeto técnico da parte mecânica foi desenvolvido na Itália, mas comprado integralmente pela IBAP, garantindo, de acordo com o anunciado, independência de royalties e propriedade intelectual.

O motor era um 2.5V6 (2.498 cm³), com 120 cv de potência máxima — não havia nada sequer parecido no Brasil —, câmbio manual de quatro marchas e suspensão independente nas quatro rodas. A carroceria leve e resistente, feita de fibra de vidro, permitia soluções inovadoras de montagem e vedação. O interior trazia painel estofado, instrumentos completos e acabamento com detalhes em jacarandá da Bahia.
Financiado pelo povo, para o povo
Nelson Fernandes apostou em um modelo de financiamento coletivo, quase uma versão “analógica” dos atuais crowdfunding, uma espécie de “vaquinha” dos tempos modernos: vendeu ações da empresa para milhares de brasileiros, que se tornavam sócios e ganhavam prioridade na compra do carro a “preço de custo”. A campanha foi nacional, com o time de Fernandes viajando pelo País em carretas que transportavam o protótipo vermelho do Democrata.


Mais de 90 mil investidores aderiram ao projeto, recebendo uma espécie de diploma e medalhas com o símbolo da IBAP — a silhueta do Brasil dentro de uma engrenagem.
A IBAP adquiriu um terreno de mais de 1 milhão de m² no Km 32 da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, SP, no caminho para a Estrada Velha do Mar. A planta piloto de 3.500 m² permitia a produção de até cinco carros por dia, com plano de expandir para 210 mil m² e fabricar 350 veículos diários, rivalizando com a produção da Volkswagen à época. Era uma fábrica real, como constatamos na época, com linha de montagem e moldes para a produção das carrocerias.

A fábrica foi projetada com setores de estamparia, fundição, montagem, tapeçaria e tratamento de água. A localização estratégica, próxima ao ABC paulista, garantia acesso a mão de obra especializada e infraestrutura logística.
Pressões, denúncias e devassas
O sucesso inicial atraiu atenção — e também desconfiança. A revista “Quatro Rodas”, por exemplo, publicou matérias denunciando a ausência de livros contábeis da empresa. De outro lado, jornalistas gabaritados como os saudosos José Luiz Vieira, da revista “Automóvel”, Victor Gouvêa, editor da revista “Auto Esporte” e Waldyr Figueiredo, do “Jornal do Brasil”, acreditavam na ideia, segundo relatou o também saudoso Luiz Carlos Secco.

Rapidamente o Banco Central e a Polícia Federal abriram investigações, e uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi instaurada em Brasília para apurar possíveis irregularidades. Todas as portas se fecharam para a IBAP.
O Banco Central acionou a IBAP na Justiça Federal; outro processo correu, na Justiça Estadual paulista, contra Nelson Fernandes e diretores da Ibap, acusados de “coleta irregular de poupança popular sob falsa alegação de construir uma fábrica de automóveis”. Outra ação pedia a dissolução judicial da empresa na Justiça Federal. Passados longos 22 anos depois do fechamento da Ibap, Fernandes foi considerado inocente pela Justiça, mas era tarde, claro. Assim funciona o Brasil. Um viés dessa história deixa claro que ter uma empresa chamada Presidente e um carro batizado de Democrata, em plena ditadura militar, não era exatamente uma boa ideia e isso atraiu a ira de alguém…

Apesar dos esforços, a produção em série nunca começou. Foram montados cinco protótipos completos e cerca de duas dezenas de carrocerias até que, em 1968, a IBAP não resistiu a tanta pressão e fechou as portas. Atualmente, existem alguns poucos exemplares funcionais do Democrata, preservados por colecionadores, e outros projetos partindo das carrocerias remanescentes.

Nelson Fernandes foi comparado ao americano Preston Tucker, que também tentou lançar um carro revolucionário nos Estados Unidos, indo na contramão das gigantes do setor. Ambos enfrentaram resistência das autoridades e de parte da nascente imprensa especializada, e seus projetos naufragaram antes de conquistar o mercado; o estadunidense é reverenciado no mundo todo e virou até filme, ao passo que o brasileiro ainda é tratado com deboche e descaso.
Fernandes faleceu em 2020, aos 88 anos, deixando como legado um projeto que, mesmo não concretizado, inspirou gerações a acreditar no potencial industrial brasileiro.
O Democrata em detalhes
O Democrata era um automóvel de tamanho médio (dimensões hoje equivalentes a um Toyota Corolla), sedã de duas portas, para cinco passageiros. Algumas carrocerias de quatro portas foram produzidas e, com o fim da operação, foram enterradas no terreno da fábrica.
Como vimos, o motor tinha 2.498 cm3, de conceito superquadrado, bloco de alumínio, V6 com cilindros dispostos a 60°. Os pistões tinham diâmetro de 84 mm e curso de 76 mm; dois eixos comandos de válvulas. A taxa de compressão era de 8,2:1 e, no final, gerava 120 cv de potência máxima a 4.500 rpm.
A alimentação contava com dois carburadores Solex 40, montados em coletores que invertiam a solução geralmente adotada de se colocar os coletores de admissão entre os cilindros. No Democrata, os coletores de escapamento ficavam entre os cilindros e os de admissão nas laterais do bloco. O consumo de combustível girava na casa dos 7,5 km/litro (13,2 litros por 100 km) e a velocidade máxima estava nos 170 km/h.

Os coletores de admissão contavam com câmaras de pré-aquecimento da mistura; os de exaustão câmaras de circulação de água, para arrefecimento. O sistema elétrico era de 12 volts, com alternador.
A caixa de câmbio do Democrata (integrada ao bloco do motor) contava com quatro marchas à frente, totalmente sincronizadas, com as seguintes relações: 1.ª, 2,5:1; 2.ª, 1,473:1; 3.ª, 1,090:1; 4.ª, 0,777:1. O diferencial contava com relação pinhão/coroa de 10:43 (4,3:1), segundo dados do fabricante. Os pneus eram diagonais, 7,35 x 15. A previsão era do uso de rodas de liga-leve (magnésio), mas os protótipos usavam rodas de aço com calotas (temos uma em nossa coleção, carinhosamente chamada de “Fundação RCaruso”).
O conjunto propulsor do Democrata foi projetado na Itália, onde foram também contratados os testes e a execução iniciais. A IBAP informava na época que havia comprado (e pago) o projeto mecânico do carro, definindo que “por conveniência e necessidade técnicas, os primeiros conjuntos mecânicos são fabricados na Itália, conforme contrato com a Procosautom — Proggetazione Construzione Auto Motori” e que nas subsequentes fases de nacionalização o carro se tornaria totalmente brasileiro. Quando fomos lá, em 1988, motores jaziam numa bancada e no chão.
O comprimento total do carro era de 4,68 m, a largura máxima 1,72 m , a altura 1,39 m. Altura livre do solo, 21 cm; bitolas dianteira e traseira, 1,39 m; peso 1.150 kg. O tanque de gasolina era em forma de “T”, para preencher espaços vazios do carro.

As suspensões eram independentes, na frente composta de braços triangulares superiores, braços de força inferiores, molas helicoidais, amortecedores telescópicos de ação simples (isso no que seria o projeto, já que os protótipos usavam barras de torção); atrás, semieixos oscilantes, braços longitudinais, helicoidais e amortecedores telescópicos de dupla ação.
No caso da suspensão traseira, a IBAP informava que “os braços longitudinais estão ligados a uma espécie de subchassi, que está preso ao conjunto estrutural da carroçaria por quatro parafusos. Esses parafusos podem ser retirados com muita facilidade e, com eles, todo o conjunto motopropulsor”.

Conclusão — se é que é possível!
É muito difícil definir lado numa história tão complexa. O que se vê são relatos de quem acreditou no projeto do Democrata e nos que não enxergaram viabilidade no projeto. Do que conseguimos avaliar hoje, tantos anos depois, a ideia da IBAP talvez se concretizasse num tamanho menor e em prazo mais estendido, migrando das carrocerias de fibra dos primeiros protótipos para as chapas de aço estampadas, como previsto num futuro modelo popular que Nelson Fernandes citava.
O carro tinha concepção mecânica simples, adequada ao padrão automotivo brasileiro da época (por exemplo, freios a tambor), conjunto propulsor traseiro (padrão da VW, que liderava o mercado na época), desenho elegante com jeitão de carro americano e porte adequado à sua proposta.
O sistema de capitalização da empresa, por meio de cotas comercializadas diretamente com os clientes — talvez o grande apelo para uma larga camada da população que sonhava com a “motorização” — acabou sendo seu ponto de inflexão, atraindo a atenção de autoridades, políticos, parte da imprensa e até da cadeia automotiva, terminando por encurralar Nelson Fernandes, criador do projeto, a ponto de encerrar a IBAP definitivamente, deixando milhares de consumidores com um sonho na cabeça e um “diploma” na mão. O mesmo conceito deu certo tempos depois, com a Gurgel e seu BR800.
Seria possível criar uma fábrica de carros independente naquela época? Acreditamos que sim. Capitalizar financeiramente o projeto por meio de ações vendidas direto aos consumidores? Por que não? O Acre Clube e os dois hospitais Presidente (homenagem a Juscelino Kubistchek) criados por Fernandes devem ter sido bons laboratórios (ambos existem até hoje) e ele tentou um voo maior, num mercado onde forças ocultas estão sempre de prontidão. E o Cemitério Vertical, em Curitiba, também segue firme. Ou seja , quatro empreendimentos dos cinco criados por Fernandes ainda continuam em ação. Se fosse para dar um “golpe” no mercado, não seria com uma complexa e cara montagem de uma fábrica de automóveis. O mais provável é que esse fosse um sonho. Difícil de concretizar, mas um sonho. “Golpe” seria mais fácil nos outros empreendimentos.
Fato é que no Brasil até o passado é incerto, e nunca saberemos o que realmente aconteceu no “eixo” Brasilia-São Paulo-São Bernardo do Campo-Detroit-Wolfsburg.

Finalizando, duas referências ao também saudoso amigo Roberto Nasser — que por muitos anos foi colunista de AUTO&TÉCNICA — em seu imperdível livro “Democrata, o carro certo no tempo errado”:
Primeiro, uma citação ao nosso mestre e inspirador José Luiz Vieira, que também foi colunista de AUTO&TÉCNICA, que “analisa que a falta de apoio da imprensa foi um dos fatores prejudiciais. Ressaltou soluções pioneiras como os moldes feitos em duas partes; a estrutura de reforço; a vedação das portas, e até o tanque de gasolina, de formato irregular, para preencher espaço ocioso. E relembro que, à época, quando conversou com colegas do porquê serem contra o projeto, não encontrou nenhuma base de fundamentação. Não sabiam, pouco conheciam, mas eram contra. E só”.
E uma fala do próprio Nasser:
“Análise superficial desta história, quase 40 anos passados, vê a mão oficial, agindo por conta própria, ou acionada oficiosamente. Traço comum é o tipo de procedimento, como quem não tem razão, sem a correção exigida na perfeição dos atos públicos.
Os atos fundados em etéreo futuro; dados fáticos e laudos oficiais desprezados; a máquina do poder impôs o tempo como o pior dos inimigos, corroendo o patrimônio, inviabilizando o projeto. Os atos, na verdade puniam os pequenos poupadores”.
O IBAP Democrata não chegou às ruas como planejado, mas sua história permanece viva como símbolo de inovação, resistência e fé no Brasil. Em tempos de dependência tecnológica, o Democrata nos lembra que ousar é preciso, e que o povo pode, sim, ser protagonista da indústria. Basta deixarem.


