Motor boxer 5.3 traz a engenharia arrefecida a ar de volta
O motor Hetzer de oito cilindros boxer tem DOHC, 32 válvulas, mais de 600 cv, taxa compressão de 12:1 e vai até 9.000 rpm, com desempenho semelhante ao de um carro de competição. Foi projetado para ser instalado na maioria dos Porsche 911 arrefecidos a ar e vai equipar um esportivo ultraleve.
Esse motor nem a Porsche teve coragem de colocar nos seus carros de rua. Uma empresa americana de carros personalizados, a Runge Cars, apresentou um motor boxer de oito cilindros -opostos dois a dois- arrefecido a ar, de 5,3 litros, feito à mão, que vai impulsionar o próximo carro esportivo da empresa, o R3 e também estará disponível para donos de Porsche 911 que queiram algo a mais em termos de desempneho.
por Ricardo Caruso, com IE

É algo mais ou menos como o que os irmãos Fittipaldi fizeram no “Fusca Fittipaldi” em 1969, com dois motores VW 1600 “a ar” enfileirados na traseira de um Fusca de corrida. A própria Porsche foi além com o motor do Porsche 917, um boxer de 12 cilindros, inicialmente com 4,5 litros e 580 cv, que evoluiu para versões de 5 litros com até 630 cv em carros aspirados. Para as corridas de Can-Am, esse motor foi aprimorado com turbocompressores duplos, resultando no 917/30, que chegou a produzir mais de 1.500 cv em versões de qualificação e 1.100 cv em corrida.
Até a GM tentou seguir esse caminho, com o motor Chevrolet Turbo-Air 6 de seis cilindros “a ar”, no final da década de 1950, para uso no Chevrolet Corvair com motor traseiro da década de 1960. Foi utilizado em toda a linha Corvair, mas se tornou um fiasco. Os motores V8 “a ar” da Tatra, por sua vez, foram muito bem sucedidos.

Agora são outros tempos. O motor de quatro comandos de válvulas e 32 válvulas da Runge Cars é combinado com uma transmissão manual de seis velocidades para oferecer o que a empresa, sediada em Minnesota, chama de “a experiência de direção analógica mais visceral disponível atualmente”.

Pesando apenas 780 kg e desenvolvido ao longo de sete anos, o R3 reflete o apelo meio romântico dos motores de combustão interna, mesmo enquanto o mundo automotivo e automobilístico correm em direção à eletrificação. “Usando o melhor da tecnologia e dos materiais disponíveis, conseguimos desenvolver nosso motor de 8 cilindros e 5.328 cm3”, explicou a Runge Cars.
No ano passado, a Porsche registrou (leia aqui) a patente para um motor de seis tempos, sugerindo uma mudança nos projetos tradicionais de quatro tempos, sinalizando uma possível grande evolução na tecnologia de motores de combustão.
À medida que o mundo do automóvel avança rápido rumo à inevitável eletrificação, a Runge Cars, administrada por Christopher Runge, mantém vivo o espírito dos motores clássicos “a ar”, obviamente de inspiração Porsche. A mais recente criação da empresa, o Hetzer, é um motor boxer de oito cilindros, dois a dois, e 5,3 litros, que combina o conceito vintage com a alta precisão da engenharia moderna.
Desenvolvido em conjunto com a Swindon Powertrain, sediada no Reino Unido, e a Sol Snyderman, especialista em arrefecimento a ar, dos Estados Unidos, o motor tem duplo comando de válvulas no cabeçote, quatro válvulas por cilindro, taxa de compressão de 12:1 e diâmetro x curso de 102.7 mm x 80.4 mm. Projetado para atingir até 9.000 rpm, o Hetzer oferece respostas rápidas, inspiradas em corridas, capturando a emoção visceral do desempenho analógico.

Feito com usinagem CNC avançada e materiais de nível esportivo, este motor foi projetado para se adaptar sem dificuldades à maioria dos Porsche 911 arrefecidos a ar, oferecendo aos entusiastas da marca alemã uma maneira inovadora de explorar todo o potencial de seus carros.
“A arquitetura de quatro comandos de válvulas e o esquema de 32 válvulas do motor permitem que ele gire com a rapidez de um motor de corrida, ao mesmo tempo em que oferece ampla faixa de potência utilizável, ideal para uso intenso em estradas e pistas. Cada componente foi projetado de forma cuidadosa para alcançar equilíbrio, desempenho e beleza visual; é uma verdadeira escultura em termos de engenharia”, afirmou a empresa.
O motor estreará no próximo supercarro R3 da Runge, um carro leve que pesa apenas 780 kg. O R3 também promete a experiência de direção totalmente analógica, com todos os modelos equipados exclusivamente com transmissão manual de seis velocidades que traciona as rodas traseiras.
As primeiras projeções desse carro revelam a dianteira baixa, faróis circulares, grade frontal modesta e cockpit compacto, complementado por espelhos retrovisores posicionados no alto das colunas A. Na traseira, uma asa curva incorporada às linhas do carro, completa a estética proposital e focada no desempenho. Lembra carros de competição dos anos 1960, mas com um sedutor toque de modernidade.
Detalhes sobre o preço do R3 e de seu motor Hetzer boxer de 5,3 litros não foram divulgados, mas, dado o trabalho meticuloso e a engenharia personalizada envolvidos, a exclusividade parece inevitável e o preço estratosférico. A produção provavelmente será limitada, refletindo a intenção do carro como uma máquina de alto desempenho voltada para colecionadores, em vez de um veículo de mercado de massa.

A Runge Cars ainda não divulgou os resultados do dinamômetro para o seu motor boxer de oito cilindros, mas, considerando que a empresa já desenvolveu um motor boxer de quatro cilindros e 2,4 litros que produz 300 cv a 8.600 rpm, o novo boxer representa mais que o dobro da cilindrada, o novo boxer de oito cilindros deve oferecer 600 cv ou um pouco mais. “O Runge Flat-8 e a nova plataforma R3 estarão disponíveis para pedidos de clientes no final deste ano de 2025. Os três primeiros motores Flat-8 serão exclusivos para as encomendas da Runge. As vendas ao público com especificações completas, dados de desempenho e preços serão anunciados nos próximos meses”, explicaram.
Enquanto as tendências de legislação empurram a indústria automotiva em direção à eletrificação, a demanda dos consumidores de vários mercados ainda não correspondeu a essas expectativas, levando os fabricantes a continuar investindo em combustão interna.
A Ferrari, por exemplo, afirmou recentemente que o desenvolvimento de motores de combustão interna -incluindo seu V12— ainda não atingiu o pico, e as alemãs BMW, Mercedes-Benz e Porsche reforçaram seus compromissos com modelos movidos a gasolina para o futuro próximo.
E agora a parte menos interessante desse projeto: o preço. O motor boxer de oito cilindros será um equipamento extremamente caro. O motor boxer de quatro cilindros da Runge custa mais de US$ 250 mil, então você pode imaginar que o novo boxer de oito cilindros superará de longe esse valor. É uma quantia quase absurda de dinheiro, mas este não é um motor comum. Um kit de cabeçotes para o quatro cilindro custa mais de US$ 30 mil! Apesar do preço exorbitante, é fácil prever que a Runge encontrará compradores dispostos a colocar esta joia de oito cilindros em seus 911 “a ar”.
Com esse desenvolvimento ainda contínuo e uma variedade de ofertas, os motores de combustão não mostram sinais de desaparecimento a curto prazo, e carros como o Runge R3 demonstram que a paixão pelo desempenho “analógico” em alta rotação continua viva e firme como nunca.

