Mulheres que modificaram a história do automóvel
De estrelas da pré-história de Hollywood a uma química industrial que registrou mais de 100 patentes em seu nome, trazemos aqui algumas das mulheres cujas invenções aprimoraram os carros e o transporte. Infelizmente, no Brasil, as mulheres tiveram e ainda tem pouca relevância nesse quesito.
Entre as mulheres na história que se tornaram famosas por suas invenções, Hedy Lamarr (foto abaixo) talvez seja uma das mais reconhecidas. Mas a maioria das pessoas provavelmente a conhece como uma das maiores e mais belas estrelas de cinema das décadas de 1930 e 1940, e não por seu trabalho que ajudou a tornar o Bluetooth e o GPS possíveis.
por Ricardo Caruso, com CD

Como destaca o Departamento de Transportes dos Estados Unidos em seu site, a invenção do automóvel “deu às mulheres amplas oportunidades para criar”. Em 1920, foi formada por lá uma agência federal conhecida como Women’s Bureau (algo como “Escritório das Mulheres”) para representar as “necessidades das mulheres assalariadas no processo de políticas públicas”. Três anos depois, aproximadamente metade das 345 invenções listadas na categoria “Transporte” no boletim daquela agência estavam relacionadas a automóveis, incluindo semáforos, indicadores de direção, carburador, mecanismo de embreagem e motor de partida elétrico, entre outros.
As primeiras inventoras “são pessoas incrivelmente incomuns”, disse a historiadora Virginia Scharff . “As barreiras para entrar nesse campo eram enormes… Para ser reconhecida como inventora, era preciso se legitimar de maneiras que seriam realmente intimidantes para as mulheres”, acrescentou Scharff, professora da Universidade do Novo México, cujo livro “Taking the Wheel: Women and the Coming of the Motor Age” analisa como elas afetaram os automóveis.
Devido a esses obstáculos, ao pensar em mulheres inventoras e em seus trabalhos, o foco deve estar nas “histórias reais dos desafios que as mulheres enfrentaram”, disse Joyce Bedi, historiadora estadunidense do “Centro Lemelson para o Estudo da Invenção e Inovação”. Além disso, ela afirmou que precisamos analisar “quais problemas as motivaram a resolver questões, como elas encontraram seu lugar em setores como o da indústria automobilística”. O que as mulheres enfrentaram, afirmou Bed, é talvez a parte mais importante para entender e valorizar a criatividade das mulheres inventoras.
Vamos conhecer algumas mulheres cujas invenções transformaram e aprimoraram os carros e os meios de transporte. Confira:
Margaret A. Wilcox e Charlotte Bridgwood

No frio é gostoso andar num carro com interior quentinho? Então agradeça a esta muher. Uma das primeiras patentes conhecidas concedidas a uma mulher foi para a engenheira Margaret A. Wilcox em 1893, por seu aquecedor de carro, originalmente criado para vagões de trens. Wilcox projetou um sistema para canalizar o calor do motor de um automóvel para aquecer o interior da cabine. É usado até hoje.
Mary Anderson

Você consegue imaginar dirigir um carro sem limpador de para-brisas? Considerada a inventora do limpador de para-brisa, Mary Anderson , que foi incluída no “Hall da Fama dos Inventores” em 2011, obteve a patente para seu dispositivo em 1903, antes mesmo de os carros terem para-brisas. Diz a lenda que Anderson teve a ideia durante uma visita à cidade de Nova Iorque em pleno inverno, onde um motorista de bonde teve que sair do veículo para limpar a neve do para-brisa ou dirigir com a cabeça para fora da janela.
Do outro lado temos Charlotte Bridgwood, atriz, inventora e empresária. Em 1917, ela patenteou o “Limpador de Para-brisa Elétrico Storm”, o primeiro limpador de para-brisa nesse conceito. Ela também foi presidente da Bridgwood Manufacturing Company, onde liderou o desenvolvimento de diversas outras inovações que focavam a segurança automotiva.
Em 18 de agosto de 1861, Charlotte Bridgwood (nascida Dunn) nasceu em Hamilton, Canadá. Já adulta, foi a atriz principal e gerente da Companhia Dramática de Lawrence, usando o nome artístico de Lotta Lawrence. Ela também atuou no cinema, contracenando com sua filha, Florence Lawrence, que conheceremos mais adiante.
Charlotte era uma entusiasta de carros e fundou sua própria empresa, a Bridgwood Manufacturing Company. Como presidente dessa empresa, deu continuidade ao progresso em direção a uma maior segurança automotiva.
Ela aprimorou o projeto de limpador de para-brisa manual desenvolvido por Mary Anderson. O limpador de para-brisa elétrico Storm, de Charlotte, utilizava roletes em vez de lâminas nos braços do limpador, eliminando a necessidade de acioná-lo manualmente por meio de uma alavanca. Em 1917, ela patenteou seu limpador de para-brisa elétrico. Embora os seus limpadores de para-brisa não tenham se popularizado durante sua vida, provaram ser uma invenção inestimável para futuros projetos automotivos. A patente do “Limpador de Para-brisa Elétrico Storm” expirou em 1920, permitindo que grandes fabricantes de automóveis utilizassem o projeto. Dois anos depois, a Cadillac foi a primeira empresa a tornar os limpadores de para-brisa elétricos itens de série em seus veículos em 1922.
Acredita-se que nem Bridgwood nem Anderson tenham lucrado com suas invenções.
Helen Blair Barlett

Durante a década de 1930, enquanto trabalhava para a AC Spark Plug, uma divisão da General Motors, Helen Blair Barlett inventou o isolamento para velas de ignição. Barlett era geóloga de formação, e seu conhecimento de petrologia e mineralogia foi fundamental para o projeto do dispositivo de isolamento da vela de ignição, bem como para outras invenções.
Florence Lawrence

Segundo consta, havia muitos indicadores de direção (ou piscas, ou setas) experimentais para carros antes da Buick os introduzir como equipamento padrão em 1939. Florence Lawrence, filha de Charlotte Bridgwood, uma das primeiras estrelas de cinema, desenvolveu um desses indicadores de direção. Lawrence nunca patenteou sua invenção, e não está claro historicamente qual indicador de direção experimental foi o “primeiro”. Outro sistema que ela inventou deu origem à luz de freio. Era uma plaquinha com um escrito “STOP” (PARE), que se erguia na traseira do carro, quando o motorista freava.
Hedy Lamarr

Mais lembrada por sua carreira de atriz e por sua beleza, Lamarr é conhecida nos círculos de invenção como a “mãe do WiFi”, o que é um exagero para muitos. Sua tecnologia de salto de frequência, patenteada em 1941, acredite, abriu caminho para o surgimento do Bluetooth e o GPS muito tempo depois. Em 1997, a “Electronic Frontier Foundation” aclamou a invenção de Lamarr como um “componente fundamental dos sistemas de dados sem fio”, e seu conceito patenteado de salto de frequência é hoje a base dos sistemas de redes sem fio e telefones celulares. Ela foi incluída no “Hall da Fama dos Inventores” em 2014.
Hedwig Eva Maria Kiesler era seu nome verdadeiro. Nasceu em 1914 em Viena, Áustria. Ela estudou balé e piano na infância e atuou em vários filmes alemães. Começou a cursar Engenharia, mas o marido, que tinha relações próximas com os nazistas, a obrigou a largar os estudos. Lamarr foi para os Estados Unidos em 1937 e naturalizou-se norte-americana em 1953.
Porém, enquanto estrelava os filmes, ela usava seu tempo livre para criar invenções. Durante a II Guerra Mundial, Lamar e o compositor/ator/inventor George Antheil desenvolveram um aparelho que criava interferências para despistar os radares ds nazistas. A ideia foi recusada pelo Departamento de Guerra dos Estados Unidos na década de 1940, e foi usado somente na década de 1960, quando a patente feita por Lamarr e Antheil expirou. O reconhecimento oficial veio na década de 1990.
A ideia desse aparelho é que serviu como base para algumas tecnologias modernas, como as conexões Wi-Fi e CDMA (Code-Division Multiple Access, de telefonia celular). Entre suas outras invenções estão um sistema de semáforos melhorados e um refresco em pastilha. Ela faleceu em 2000; Antheil morreu em 1959.
Edith Flanigen

Edith Flanigen começou a trabalhar com “peneiras moleculares” em 1956. Elas ainda são usadas para converter petróleo bruto em gasolina, remover água de condicionadores de ar de automóveis (e de tubulações de gás refrigerante em geladeiras), produzir oxigênio para unidades médicas portáteis e limpar resíduos nucleares. Flanigen, que trabalhou por 42 anos na Union Carbide, recebeu o “Prêmio Lemelson-MIT de Reconhecimento pela Carreira” em 2004, mesmo ano em que foi incluída no “Hall da Fama dos Inventores”. Nasceu em 1929 e ainda vive. Durante sua vida, registrou 109 patentes.
Margaret Wu

As invenções de Margaret Wu, nascida em 1950 em Taiwan, ajudam os motores de carros a funcionarem melhor. Cientista que dedicou sua carreira à ExxonMobil, é reconhecida por revolucionar o campo dos lubrificantes sintéticos. Em especial, o trabalho de Wu mudou a estrutura de lubrificantes, como o óleo de motor; suas descobertas melhoraram a eficiência energética e reduziram o desperdício de lubrificante. As invenções de Wu também são utilizadas em turbinas eólicas e outras máquinas industriais. Ela se aposentou em 2009 e detém mais de 100 patentes nos Estados Unidos. Ela foi incluída no “Hall da Fama dos Inventores” em 2022.

